Notícia

O curioso caso de Pedro Segura e outras histórias dos 51 anos do Cemitério Municipal

Texto: Cristian Aguazo
Fotos Assessoria


Fundado em 10 de março de 1966, o Cemitério Municipal completou 51 anos hoje. Embora seja um rico espaço para pesquisas de cunho social e histórico, cemitérios geralmente não são muito mencionados nas conversas do dia a dia e não entram na pauta jornalística com muita frequência.


Em Guaíra, o cemitério tem tido nos últimos anos um espaço garantido nas discussões político-administrativas. Isso porque há tempos é ventilada a necessidade de uma nova necrópole.


Para dar sobrevida ao tradicional cemitério, a gestão passada inaugurou em 2014 o Ossário Paulo Cezar Zeballos Rolon, que homenageia um famoso personagem guairense. "Com o Ossário ganhamos espaço e conseguimos dar mais tempo de uso a este cemitério. Fatalmente teremos que disponibilizar outro em alguns anos. O nome do Paulinho foi uma homenagem prestada na época e a meu ver muito justa, já que ele era um frequentador de velórios e personagem muito querido na comunidade", comentou Lindomar Moraes, diretor de Administração.



Um cemitério é sempre um espaço que revela memórias e marcas da sociedade em que está inserido. Guaíra, cidade de uma riqueza histórica ímpar, está de certa forma traduzida em sua necrópole.


Chama a atenção, por exemplo, a quantidade de lápides com a escrita japonesa, a presença árabe e até mesmo a disparidade entre os suntuosos e os humildes túmulos, marca inequívoca do contraste social brasileiro.


A religiosidade, obviamente, está em evidência. O estilo cristão é praticamente o padrão, mas também existe espaço no cemitério para a presença da religiosidade de matriz africana. Em 2012, um bode com a cabeça decepada foi encontrado na porta do cemitério. O episódio rendeu a capa num dos principais jornais da cidade.


E há casos ainda mais interessantes, como o dos três corpos que nunca foram identificados, cujos túmulos permanecem "em branco" até hoje. As três pessoas anônimas foram vítimas da maior tragédia do Paraná, em janeiro de 1982, quando uma ponte do antigo Parque Nacional de Sete Quedas não resistiu ao excesso de visitantes, que vinham a Guaíra se despedir das míticas cataratas do rio Paraná. Na época, 32 pessoas morreram.



O curioso caso de Pedro Segura


Sete Quedas, aliás, fez muitas vítimas. Sua beleza estava associada à força de suas águas e à altura de seus paredões. Em 1974, o barco "Maria Bonita", de Pedro Segura Aldana, levava passageiros de Guaíra para o Mato Grosso do Sul. Navegar no rio Paraná, contudo, é arriscado até hoje. Naquele dia, a neblina confundiu o experiente marinheiro, e, quando ele percebeu, estava sendo tragado pela correnteza do Paranazão. Impotente, e para desespero dos passageiros, o barco foi levado em direção às poderosas cachoeiras. Pedro Segura ainda resistiu, isolado à beira do abismo, agarrado a uma pedra, nas proximidades do temível Salto 14, o mais violento das 7 Quedas. Trinta e três horas se passaram até que o helicóptero alcançasse o único sobrevivente da tragédia. Do helicóptero, uma corda foi lançada em direção ao homem. Ele se amarrou e foi içado. Quando estava já prestes a ser alcançado pela equipe de resgate,  Pedro Segura se soltou da corda que o prendia e ele foi enfim engolido pelas Sete Quedas...


Histórias

Das tragédias guairenses, muitas são lembradas até hoje. O funeral do acidente que vitimou os professores Jaime Rodrigues, Ana Maria Roggia, Terezinha Pauluch e Maria Bolwerk ainda é muito lembrado pelos veteranos da educação. O mesmo vale para o acidente de Robinson Reis, professor que empresta o nome ao nosso Ginásio de Esportes. E quem é que não se recorda da fatídica chacina do dia 22 de setembro de 2008, quando 15 pessoas foram brutalmente assassinadas?


"Foi tão chocante que uma patrola teve que ir até o cemitério para garantir espaço para as covas de 15 pessoas simultaneamente", conta Evandro Sergio Pedroso, cidadão que já trabalhou no cemitério e que frequenta o espaço, por quem garante ter uma inexplicável ligação.


Outros profissionais também marcaram época. É o caso do coveiro Abraão Gimenez, já falecido, e de José Alves de Miranda, há 20 anos ajudando na organização e manutenção do cemitério.


Curiosidades


Entre os túmulos mais visitados, estão o dos empresários Quinto e Celso Andreis, pai e filho que foram assassinados em julho de 1996, e o de dona Lucila Suarez Arguello, baluarte da Vila Velha.


Marcos D′Agostini, jovem guairense vítima de um acidente de trânsito, também é muito lembrado, assim como o empresário Eliaurio Caovilla, o popular "Maninho" da Barbosa Materiais de Construção.


O primeiro túmulo do cemitério é de Amélia Menegassi. Depois dela, várias famílias enterraram seus entes na sequência, no que é chamado por Evandro de "túmulos pioneiros", caso das famílias Miani, Friedrich, Rodrigues, Aguayo, Pedroso, Ferraz, Silveira, Nazário, Murata, Ohashi, Matsuyama, Kihara, Futagami, Bueno, Vendruscolo, Britez, Rangel de Lima, Garcia, Shiomi, Gimenez, Nunes, Capatti, Vanin, Moritz e Garicoix, entre outros.


E, claro, um cemitério sempre vai ser um prato cheio para lendas, como a do túmulo que verteu sangue porque um homem havia sido enterrado vivo, ou do mistério da lápide que vaza água porque o falecido continua em prantos.


Os vivos sempre encontram sentido para a morte. E até mesmo beleza. No cemitério, alguns epitáfios sintetizam a poesia triste do momento. "Florzinha mimosa, tão cedo murchou, foi para outro canteiro"; "A saudade que ficou e a dor só não são maiores que a esperança e o desejo de reencontro. Que esta vida é apenas passagem e o que importa está no além"; "Você sempre foi e será um grande amigo, partiu cedo, a cada vez que olharmos o céu e as estrelas brilhando, lembraremos de você".



Com lendas, histórias, fotografias e epitáfios, cemitérios continuam sendo o "lar" de entes queridos, território do sagrado. Após meio século, aproximadamente 14 mil pessoas foram enterradas no cemitério central. Guaíra possui ainda cemitérios nas comunidades rurais de Oliveira Castro, Bela Vista e Maracaju dos Gaúchos.


O Cemitério Municipal foi criado após a desativação dos cemitérios da Companhia Mate Laranjeira (onde funciona atualmente o Colégio Estadual Mendes Gonçalves) e do "quartel", área militar.

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Município de Guaíra
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Data de publicação: 10/03/2017


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